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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A palavra que ensina àquele que ensina



Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja bem a palavra da Verdade (II Timóteo, 2.15)

Wayne Cordeiro, em seu livro intitulado Mentores segundo o coração de Deus (Editora Vida), conta a história das Sequóias da Califórnia. Estas árvores foram plantadas há mais de quatro séculos e atingem alturas acima dos oitenta metros. São verdadeiros gigantes, sob os quais se constroem estradas que permitem a passagem de grandes veículos. 

Entretanto, Wayne Cordeiro chama a atenção para o fato de uma dessas imensas árvores ter caído, sem que houvesse uma explicação plausível para o fato. Foi necessário muito tempo de investigação para que os responsáveis pelo parque chegassem à conclusão de que a razão para a queda do “gigante” teria sido o enfraquecimento das raízes provocado pelo peso das pessoas que as pisoteavam.  Após esta constatação, foram colocadas cercas para a proteção das raízes e do solo ao redor das árvores. Os visitantes, agora, podem ver a árvore e dela se aproximar apenas dentro dos limites estabelecidos para a proteção da mesma. 



A história das sequóias é apresentada por Wayne Cordeiro com a finalidade de advertir o leitor para a imensurável necessidade de separar um tempo e um local de qualidade para o encontro diário com nosso Deus. Quando este cuidado não é observado, o cristão é pisoteado pelas infindáveis agitações da vida e pelos muitos cuidados deste mundo. O autor citado nos adverte para criarmos, em torno de nós, um espaço ao qual poderemos chamar de “solo sagrado”, ou seja, a demarcação de um tempo e um local específico para oração, leitura e meditação na Palavra de Deus. Sem este cuidado com nossa vida espiritual, podemos, literalmente, “desabar”, independente de quão grandes e fortes possamos nos considerar ou ser considerados pelos outros. Nenhum cristão pode considerar-se maduro o suficiente para abrir mão deste recurso. Da mesma forma, nenhum cristão deve considerar-se insuficientemente crescido para buscar este tipo de comunhão diária com o Senhor. Nenhum de nós deve deixar que as inúmeras e, muitas vezes, sufocantes atividades do dia-a-dia “pisoteiem” as raízes de nossa vida espiritual, pois o resultado pode ser a morte. A seiva que vem da Palavra de Deus precisa fluir das raízes para nosso tronco, galhos e folhas, para que os nossos frutos sejam viçosos e alimentem aqueles que nos foram confiados e para que nossa sombra seja abrigo para aqueles que andam desamparados.
A palavra de Deus é descrita na própria Bíblia como sendo essencial para vida cristã. Muitos símbolos ou figuras são utilizados na Bíblia para designar o que ela é e para enfatizar sua relevância na vida diária.  Vamos observar algumas dessas figuras:
Semente da vida eterna – O apóstolo Pedro, em sua primeira carta (versos 23 a 25) nos diz que fomos regenerados “não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva e cai a flor; a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a palavra que nos foi evangelizada”. É na palavra de Deus que encontramos a semente que nos conduz ao novo nascimento ou à regeneração, conforme diz o texto de Pedro. É por meio da palavra que passamos da morte espiritual para a vida eterna. Não é por meio de obras que chegaremos à vida eterna. Não é possível comprar o acesso a Deus e ao céu. Aquele que não nasceu de novo não pode ver o reino de Deus. O novo nascimento resulta da atuação da palavra viva que desceu do céu (Jesus) e da palavra escrita que nos tem sido transmitida desde Moisés.
Alimento –  Mas, o novo nascimento é apenas o começo. Precisamos crescer na graça e no conhecimento do Senhor Jesus Cristo, que pagou o preço para que sejamos salvos. Se tivéssemos partido desta vida imediatamente após nossa conversão ou novo nascimento, certamente estaríamos com o Senhor, no céu, assim como ele prometeu ao ladrão na cruz. Mas, se Ele nos deixou aqui na Terra, após nossa conversão, certamente ele deseja que cresçamos na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (II Pedro 3.18). Todos nós sabemos que o recém-nascido precisa de alimento para crescer. Curiosamente, entretanto, o recém nascido não sabe disso. Pelo menos, ele não o sabe intelectualmente, da forma como nós o sabemos. Mas ele deseja o alimento. Ele deseja, ardentemente. Ele deseja, desesperadamente. Ele sente a pungente necessidade do alimento. Este desejo não tem nada a ver com desejo de crescimento ou de qualquer outro efeito secundário proporcionado pelo alimento. Ele apenas deseja o alimento porque não agüenta ficar sem ele. Suas entranhas o consomem, doem, geram agonia quando o alimento não é recebido na hora oportuna e da forma correta.  É assim que devemos desejar o genuíno leite espiritual que é a Palavra de Deus, conforme o texto de I Pedro 2.2: “desejai, ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual para que, por ele, vos seja dado o crescimento para a salvação”.
Pão da vida - Mas não podemos ficar na dependência de leite durante toda a nossa vida. Precisamos passar do leite para o alimento sólido, conforme nos adverte o autor da carta aos Hebreus (5.14): “o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, tem suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal”. A Palavra de Deus é também o pão diário do qual dependemos para nossa sobrevivência espiritual, nos momentos mais difíceis da nossa vida. Em Deuteronômio (3;8), lemos o seguinte:  “Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do senhor viverá o homem”.  Este é o texto utilizado pelo Senhor Jesus para enfrentar o tentador no deserto, após 40 dias de jejum.  Jesus pôde dizer que “não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus”, pois Ele não somente conhece o que diz o Velho Testamento, como é também a palavra de Deus,  encarnada, por meio de quem temos a vida eterna.  
Lâmpada – O salmo 119 verso 105 apresenta a palavra de Deus como sendo lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos. Minha irmã Elisa, há alguns anos atrás, foi missionária em uma tribo indígena no interior de Mato Grosso. De lá, ela me escreveu cartas muito lindas que guardo até hoje. Uma de suas cartas começava falando assim: “Inez, agora eu realmente sei o que o Salmo 119, 105 quer dizer quando menciona a lâmpada para os pés. Aqui a noite é tão escura que quando terminamos o culto e voltamos para casa, passando por um caminho estreito no meio do mato, cada um precisa ter sua própria lanterna para iluminar o próximo passo. Não adianta tentar utilizar a lanterna para iluminar o caminho à frente, pois a escuridão não permite que vejamos sequer onde colocamos o pé. Também não dá para confiar na lanterna do outro. Para não pisar num buraco, numa pedra ou numa cobra, a lâmpada tem que ser posicionada exatamente no lugar onde o pé deverá ser colocado”.
Nunca me esqueci desta carta da minha irmã. Cada vez que leio o Salmo 119 lembro-me dela. Mas também me lembro quando tenho que tomar alguma decisão difícil. Penso que preciso da palavra de Deus como lâmpada, iluminando o próximo passo que darei. Para tomar a decisão certa, preciso saber o que a Bíblia diz a respeito de todos os aspectos envolvidos na situação na qual me encontro. A lâmpada, a palavra, me mostra o próximo passo. O restante da caminhada será iluminado, pela mesma palavra,  que é luz para os caminhos. Na medida em que dou cada passo guiado pela palavra de Deus, posso caminhar pela fé, pois “Deus fará um caminho”, na medida em que ando por nele. O Senhor Jesus disse-nos para não andarmos ansiosos quanto ao dia de amanhã, pois basta ao dia o seu próprio mal.
Fogo e Martelo – Em Jeremias 23. 29, a palavra de Deus é apresentado como fogo e martelo: “não é a minha palavra fogo, diz o Senhor, e martelo que esmiúça a rocha? Portanto, eu sou contra estes profetas, diz o Senhor, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu companheiro. Eis que eu sou contra estes profetas, que pregam a sua própria palavra e afirmam: Ele disse”.  O texto do profeta Jeremias reforça a importância de conhecermos a palavra de Deus para não estarmos sujeitos ao engano que provém da pregação que se diz bíblica, mas que está fundamentada em sonhos, visões, argumentações, pretensões e manipulações humanas. Temos a palavra de Deus ao nosso alcance, como fogo que prova e purifica, revelando o que é eterno e o que é meramente intenção humana e pecaminosa. Para não andar como meninos, levados por qualquer vento de doutrina, é necessário conhecer a palavra e submeter a ela tudo o que ouvimos.
Certa vez um militar, amigo da família fez um curso para identificar notas falsas. Ele ficou intrigado ao descobrir que o curso estava quase acabando e ele tinha tido apenas contato com as notas verdadeiras. Noventa e cinco por cento do tempo do curso foi gasto na análise de todos os detalhes das notas verdadeiras. Apenas nos restantes cinco por cento do tempo é que os estudantes receberam notas falsas para analisar. A tarefa tornou-se, então, muito fácil, pois eles conheciam profundamente as notas verdadeiras. Identificar os mínimos traços de falsificação tornou-se quase brincadeira, pois estavam experimentados nas verdadeiras. Deveria ser assim também com as coisas espirituais. Se gastarmos nosso precioso tempo em contato com a verdadeira palavra de Deus, estaremos experimentados na verdade e saberemos identificar os enganos quando nos depararmos com eles. Mas se andarmos de um lado para outro, tentando discernir, por nossos próprios recursos e raciocínios, o que provém de Deus e o que não provém, teremos enormes chances de nos enganarmos e poderemos pagar um alto preço por isto, além de também conduzirmos outros ao engano.
Espada de dois gumes – Hebreus 4.12 nos diz: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e os propósitos do coração. E não há criatura que não seja manifesta na sua presença, pelo contrário, todas as coisas estão descobertas aos olhos Daquele a quem temos que prestar contas”. Você já ouviu falar de pessoas incrédulas que vão à igreja por motivos diversos e que ficam surpresas ou até irritadas ao perceberem que a mensagem pregada trata de assuntos que lhes dizem respeito? Alguns chegam a afirmar que alguém teria contado ao pregador os detalhes de sua vida particular pois somente isto explicaria o fato do pregador dizer tanta coisa que diretamente ligadas à sua experiência de vida. Já ouvi alguém se afastar totalmente do evangelho por julgar que os detalhes de sua vida foram expostos pelo pregador, de forma desrespeitosa, em público. Isto, às vezes acontece, mas não é o caso em relação  à pessoa à qual me refiro. A palavra de Deus atinge o âmago dos corações e mentes e traz à tona os pecados, sejam eles cometidos em atos, pensamentos ou intenções. Mas a palavra de Deus também traz à tona sentimentos de dor e perda, sentimentos de injustiça e solidão. E, por meio da palavra, podemos experimentar o perdão, a cura, a redenção, a restauração de sonhos e o desejo de recomeçar. Mas também pode acontecer o contrário. Algumas pessoas têm seu coração endurecido e se rebelam ainda mais, procurando todo tipo de motivo para manter-se distante da palavra de Deus. D. L Mood escreveu, em sua Bíblia, as sábias palavras: “ou este livro me afastará do pecado ou o pecado me afastará deste livro”.
A Bíblia é a querida palavra de Deus, que ensina a todo aquele que ensina. Não há outro lugar onde se possa achar maior tesouro de sabedoria do que na Bíblia. Não há outro lugar onde se possa encontrar maior fonte de inspiração do que nas fontes de águas vivas. Como mestres que somos, precisamos ler muitas coisas, ouvir muitas coisas. Precisamos estar afinados com as ultimas publicações em diferentes áreas do saber. Mas não podemos trocar o manancial das águas vivas por algumas cisternas rotas (Jeremias 2.12).  Nada pode substituir nosso tempo com a palavra de Deus.
Para terminar, pensemos no que diz o Salmo 119, versos 98, 99 e 100: “os teus mandamentos me fazem mais sábio do que os meus inimigos; porque aqueles, eu os tenho sempre comigo. Compreendo mais do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos.  Sou mais prudente do que os idosos, porque guardo os teus preceitos”. Você gostaria de ser mais sábio do que os seus inimigos, ter maior capacidade de compreensão do que os próprios mestres e ser mais prudente do que os idosos? Pense nisto.
Uma pessoa com as características descritas nos três versos descritos acima seria, sem dúvida, uma referência. Uma pessoa mais sábia que os inimigos, com maior capacidade de compreensão do que os mestres e mais prudente do que os idosos é, certamente, um líder e um ensinador. E estas qualidades resultam da comunhão diária com a palavra que ensina. Nossa geração está carente de pessoas assim. Nossas escolas estão carentes de educadores assim. O mundo está indo de mal a pior por falta de pessoas assim. Você está disposto a tornar-se uma pessoa assim? Ou vai dizer que não pode ter este tipo de aspiração porque não tem tempo?
Lembre-se da sequóia e cuide para que sejam colocadas cercas em torno de suas raízes; cultive o hábito de priorizar o lugar secreto da comunhão diária com o Senhor. Valorize o terreno sagrado do seu contato pessoal e íntimo com Deus, diariamente. Deixe a Palavra que ensina ensinar a você, que tem a responsabilidade de ensinar a todos a guardar todas as coisas que Jesus tem ordenado (Mateus 28.20). 
Deus escolheu revelar-se ao mundo por meio da natureza, por meio de Jesus Cristo e por meio da palavra escrita. Em nosso país, milhões e milhões de pessoas não gostam de ler. Muitos milhares não sabem ler e outros tantos lêem e não entendem. A tarefa do educador é monumental. A ignorância, o analfabetismo, o analfabetismo funcional e a pouca apreciação pela leitura em geral é uma estratégia maligna para manter as pessoas afastadas do livro de Deus. Por isso, eu e você, que somos chamados como educadores e educadoras cristãos, temos que apegar-nos, cada vez mais, a esta maravilhosa palavra que ensina, para cumprirmos o nosso chamado de forma digna Daquele que nos chamou. Que assim seja com cada um de nós. Amém.
Em Aliança
Inez Augusto Borges 





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