Procura apresentar-te a
Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja bem
a palavra da Verdade (II Timóteo, 2.15)
Wayne Cordeiro, em seu livro intitulado Mentores segundo o
coração de Deus (Editora Vida), conta a história das Sequóias da Califórnia.
Estas árvores foram plantadas há mais de quatro séculos e atingem alturas acima
dos oitenta metros. São verdadeiros gigantes, sob os quais se constroem
estradas que permitem a passagem de grandes veículos.
Entretanto, Wayne Cordeiro chama a atenção para o fato de uma
dessas imensas árvores ter caído, sem que houvesse uma explicação plausível
para o fato. Foi necessário muito tempo de investigação para que os
responsáveis pelo parque chegassem à conclusão de que a razão para a queda do
“gigante” teria sido o enfraquecimento das raízes provocado pelo peso das
pessoas que as pisoteavam. Após esta
constatação, foram colocadas cercas para a proteção das raízes e do solo ao
redor das árvores. Os visitantes, agora, podem ver a árvore e dela se aproximar
apenas dentro dos limites estabelecidos para a proteção da mesma.
A história das sequóias é apresentada por Wayne Cordeiro com
a finalidade de advertir o leitor para a imensurável necessidade de separar um
tempo e um local de qualidade para o encontro diário com nosso Deus. Quando
este cuidado não é observado, o cristão é pisoteado pelas infindáveis agitações
da vida e pelos muitos cuidados deste mundo. O autor citado nos adverte para
criarmos, em torno de nós, um espaço ao qual poderemos chamar de “solo sagrado”,
ou seja, a demarcação de um tempo e um local específico para oração, leitura e
meditação na Palavra de Deus. Sem este cuidado com nossa vida espiritual,
podemos, literalmente, “desabar”, independente de quão grandes e fortes
possamos nos considerar ou ser considerados pelos outros. Nenhum cristão pode
considerar-se maduro o suficiente para abrir mão deste recurso. Da mesma forma,
nenhum cristão deve considerar-se insuficientemente crescido para buscar este
tipo de comunhão diária com o Senhor. Nenhum de nós deve deixar que as inúmeras
e, muitas vezes, sufocantes atividades do dia-a-dia “pisoteiem” as raízes de
nossa vida espiritual, pois o resultado pode ser a morte. A seiva que vem da
Palavra de Deus precisa fluir das raízes para nosso tronco, galhos e folhas,
para que os nossos frutos sejam viçosos e alimentem aqueles que nos foram confiados
e para que nossa sombra seja abrigo para aqueles que andam desamparados.
A palavra de Deus é descrita na própria Bíblia como sendo
essencial para vida cristã. Muitos símbolos ou figuras são utilizados na Bíblia
para designar o que ela é e para enfatizar sua relevância na vida diária. Vamos observar algumas dessas figuras:
Semente da vida eterna – O apóstolo Pedro, em sua primeira
carta (versos 23 a 25) nos diz que fomos regenerados “não de semente
corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é
permanente. Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da
erva; seca-se a erva e cai a flor; a palavra do Senhor, porém, permanece
eternamente. Ora, esta é a palavra que nos foi evangelizada”. É na palavra de
Deus que encontramos a semente que nos conduz ao novo nascimento ou à
regeneração, conforme diz o texto de Pedro. É por meio da palavra que passamos
da morte espiritual para a vida eterna. Não é por meio de obras que chegaremos
à vida eterna. Não é possível comprar o acesso a Deus e ao céu. Aquele que não
nasceu de novo não pode ver o reino de Deus. O novo nascimento resulta da
atuação da palavra viva que desceu do céu (Jesus) e da palavra escrita que nos
tem sido transmitida desde Moisés.
Alimento – Mas, o novo nascimento é apenas o começo.
Precisamos crescer na graça e no conhecimento do Senhor Jesus Cristo, que pagou
o preço para que sejamos salvos. Se tivéssemos partido desta vida imediatamente
após nossa conversão ou novo nascimento, certamente estaríamos com o Senhor, no
céu, assim como ele prometeu ao ladrão na cruz. Mas, se Ele nos deixou aqui na
Terra, após nossa conversão, certamente ele deseja que cresçamos na graça e no
conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (II Pedro 3.18). Todos nós
sabemos que o recém-nascido precisa de alimento para crescer. Curiosamente, entretanto,
o recém nascido não sabe disso. Pelo menos, ele não o sabe intelectualmente, da
forma como nós o sabemos. Mas ele deseja o alimento. Ele deseja, ardentemente.
Ele deseja, desesperadamente. Ele sente a pungente necessidade do alimento.
Este desejo não tem nada a ver com desejo de crescimento ou de qualquer outro
efeito secundário proporcionado pelo alimento. Ele apenas deseja o alimento
porque não agüenta ficar sem ele. Suas entranhas o consomem, doem, geram agonia
quando o alimento não é recebido na hora oportuna e da forma correta. É assim que devemos desejar o genuíno leite espiritual
que é a Palavra de Deus, conforme o texto de I Pedro 2.2: “desejai,
ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual para
que, por ele, vos seja dado o crescimento para a salvação”.
Pão da vida - Mas não podemos ficar na dependência
de leite durante toda a nossa vida. Precisamos passar do leite para o alimento
sólido, conforme nos adverte o autor da carta aos Hebreus (5.14): “o alimento
sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, tem suas faculdades
exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal”. A Palavra de
Deus é também o pão diário do qual dependemos para nossa sobrevivência
espiritual, nos momentos mais difíceis da nossa vida. Em Deuteronômio (3;8),
lemos o seguinte: “Ele te humilhou, e te
deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais
o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de
tudo o que procede da boca do senhor viverá o homem”. Este é o texto utilizado pelo Senhor Jesus
para enfrentar o tentador no deserto, após 40 dias de jejum. Jesus pôde dizer que “não só de pão viverá o
homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus”, pois Ele não somente
conhece o que diz o Velho Testamento, como é também a palavra de Deus, encarnada, por meio de quem temos a vida
eterna.
Lâmpada – O salmo 119 verso 105 apresenta a
palavra de Deus como sendo lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos.
Minha irmã Elisa, há alguns anos atrás, foi missionária em uma tribo indígena
no interior de Mato Grosso. De lá, ela me escreveu cartas muito lindas que
guardo até hoje. Uma de suas cartas começava falando assim: “Inez, agora eu
realmente sei o que o Salmo 119, 105 quer dizer quando menciona a lâmpada para
os pés. Aqui a noite é tão escura que quando terminamos o culto e voltamos para
casa, passando por um caminho estreito no meio do mato, cada um precisa ter sua
própria lanterna para iluminar o próximo passo. Não adianta tentar utilizar a
lanterna para iluminar o caminho à frente, pois a escuridão não permite que
vejamos sequer onde colocamos o pé. Também não dá para confiar na lanterna do
outro. Para não pisar num buraco, numa pedra ou numa cobra, a lâmpada tem que
ser posicionada exatamente no lugar onde o pé deverá ser colocado”.
Nunca me esqueci desta carta da minha
irmã. Cada vez que leio o Salmo 119 lembro-me dela. Mas também me lembro quando
tenho que tomar alguma decisão difícil. Penso que preciso da palavra de Deus
como lâmpada, iluminando o próximo passo que darei. Para tomar a decisão certa,
preciso saber o que a Bíblia diz a respeito de todos os aspectos envolvidos na
situação na qual me encontro. A lâmpada, a palavra, me mostra o próximo passo.
O restante da caminhada será iluminado, pela mesma palavra, que é luz para os caminhos. Na medida em que
dou cada passo guiado pela palavra de Deus, posso caminhar pela fé, pois “Deus
fará um caminho”, na medida em que ando por nele. O Senhor Jesus disse-nos para
não andarmos ansiosos quanto ao dia de amanhã, pois basta ao dia o seu próprio
mal.
Fogo e Martelo – Em Jeremias 23. 29, a palavra de
Deus é apresentado como fogo e martelo: “não é a minha palavra fogo, diz o
Senhor, e martelo que esmiúça a rocha? Portanto, eu sou contra estes profetas,
diz o Senhor, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu companheiro. Eis
que eu sou contra estes profetas, que pregam a sua própria palavra e afirmam:
Ele disse”. O texto do profeta Jeremias
reforça a importância de conhecermos a palavra de Deus para não estarmos sujeitos
ao engano que provém da pregação que se diz bíblica, mas que está fundamentada
em sonhos, visões, argumentações, pretensões e manipulações humanas. Temos a
palavra de Deus ao nosso alcance, como fogo que prova e purifica, revelando o
que é eterno e o que é meramente intenção humana e pecaminosa. Para não andar
como meninos, levados por qualquer vento de doutrina, é necessário conhecer a
palavra e submeter a ela tudo o que ouvimos.
Certa vez um militar, amigo da
família fez um curso para identificar notas falsas. Ele ficou intrigado ao
descobrir que o curso estava quase acabando e ele tinha tido apenas contato com
as notas verdadeiras. Noventa e cinco por cento do tempo do curso foi gasto na
análise de todos os detalhes das notas verdadeiras. Apenas nos restantes cinco por
cento do tempo é que os estudantes receberam notas falsas para analisar. A
tarefa tornou-se, então, muito fácil, pois eles conheciam profundamente as
notas verdadeiras. Identificar os mínimos traços de falsificação tornou-se
quase brincadeira, pois estavam experimentados nas verdadeiras. Deveria ser
assim também com as coisas espirituais. Se gastarmos nosso precioso tempo em
contato com a verdadeira palavra de Deus, estaremos experimentados na verdade e
saberemos identificar os enganos quando nos depararmos com eles. Mas se
andarmos de um lado para outro, tentando discernir, por nossos próprios
recursos e raciocínios, o que provém de Deus e o que não provém, teremos
enormes chances de nos enganarmos e poderemos pagar um alto preço por isto,
além de também conduzirmos outros ao engano.
Espada de dois gumes – Hebreus 4.12 nos diz: “Porque a
palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante do que qualquer espada de dois
gumes, e penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é
apta para discernir os pensamentos e os propósitos do coração. E não há
criatura que não seja manifesta na sua presença, pelo contrário, todas as
coisas estão descobertas aos olhos Daquele a quem temos que prestar contas”. Você
já ouviu falar de pessoas incrédulas que vão à igreja por motivos diversos e que
ficam surpresas ou até irritadas ao perceberem que a mensagem pregada trata de
assuntos que lhes dizem respeito? Alguns chegam a afirmar que alguém teria
contado ao pregador os detalhes de sua vida particular pois somente isto
explicaria o fato do pregador dizer tanta coisa que diretamente ligadas à sua
experiência de vida. Já ouvi alguém se afastar totalmente do evangelho por
julgar que os detalhes de sua vida foram expostos pelo pregador, de forma
desrespeitosa, em público. Isto, às vezes acontece, mas não é o caso em
relação à pessoa à qual me refiro. A
palavra de Deus atinge o âmago dos corações e mentes e traz à tona os pecados,
sejam eles cometidos em atos, pensamentos ou intenções. Mas a palavra de Deus
também traz à tona sentimentos de dor e perda, sentimentos de injustiça e
solidão. E, por meio da palavra, podemos experimentar o perdão, a cura, a
redenção, a restauração de sonhos e o desejo de recomeçar. Mas também pode
acontecer o contrário. Algumas pessoas têm seu coração endurecido e se rebelam
ainda mais, procurando todo tipo de motivo para manter-se distante da palavra
de Deus. D. L Mood escreveu, em sua Bíblia, as sábias palavras: “ou este livro
me afastará do pecado ou o pecado me afastará deste livro”.
A Bíblia é a querida palavra de Deus, que ensina a todo
aquele que ensina. Não há outro lugar onde se possa achar maior tesouro de
sabedoria do que na Bíblia. Não há outro lugar onde se possa encontrar maior
fonte de inspiração do que nas fontes de águas vivas. Como mestres que somos,
precisamos ler muitas coisas, ouvir muitas coisas. Precisamos estar afinados
com as ultimas publicações em diferentes áreas do saber. Mas não podemos trocar
o manancial das águas vivas por algumas cisternas rotas (Jeremias 2.12). Nada pode substituir nosso tempo com a palavra
de Deus.
Para terminar, pensemos no que diz o Salmo 119, versos 98, 99
e 100: “os teus mandamentos me fazem mais sábio do que os meus inimigos; porque
aqueles, eu os tenho sempre comigo. Compreendo mais do que todos os meus
mestres, porque medito nos teus testemunhos. Sou mais prudente do que os idosos, porque
guardo os teus preceitos”. Você gostaria de ser mais sábio do que os seus inimigos,
ter maior capacidade de compreensão do que os próprios mestres e ser mais
prudente do que os idosos? Pense nisto.
Uma pessoa com as características descritas nos três versos
descritos acima seria, sem dúvida, uma referência. Uma pessoa mais sábia que os
inimigos, com maior capacidade de compreensão do que os mestres e mais prudente
do que os idosos é, certamente, um líder e um ensinador. E estas qualidades
resultam da comunhão diária com a palavra que ensina. Nossa geração está
carente de pessoas assim. Nossas escolas estão carentes de educadores assim. O
mundo está indo de mal a pior por falta de pessoas assim. Você está disposto a
tornar-se uma pessoa assim? Ou vai dizer que não pode ter este tipo de
aspiração porque não tem tempo?
Lembre-se da sequóia e cuide para que sejam colocadas cercas
em torno de suas raízes; cultive o hábito de priorizar o lugar secreto da
comunhão diária com o Senhor. Valorize o terreno sagrado do seu contato pessoal
e íntimo com Deus, diariamente. Deixe a Palavra que ensina ensinar a você, que
tem a responsabilidade de ensinar a todos a guardar todas as coisas que Jesus
tem ordenado (Mateus 28.20).
Deus escolheu revelar-se ao mundo por meio da natureza, por
meio de Jesus Cristo e por meio da palavra escrita. Em nosso país, milhões e
milhões de pessoas não gostam de ler. Muitos milhares não sabem ler e outros
tantos lêem e não entendem. A tarefa do educador é monumental. A ignorância, o
analfabetismo, o analfabetismo funcional e a pouca apreciação pela leitura em
geral é uma estratégia maligna para manter as pessoas afastadas do livro de
Deus. Por isso, eu e você, que somos chamados como educadores e educadoras
cristãos, temos que apegar-nos, cada vez mais, a esta maravilhosa palavra que
ensina, para cumprirmos o nosso chamado de forma digna Daquele que nos chamou.
Que assim seja com cada um de nós. Amém.
Em Aliança
Inez Augusto Borges
Nenhum comentário:
Postar um comentário